Tetris usado na prevenção de sintomas de estresse pós-traumático

O transtorno de estresse pós-traumático acomete algumas pessoas após eventos nos quais sintam que sua vida corre risco. Pesquisadores vêm testando como o jogo Tetris pode ajudar na prevenção do aparecimento desses sintomas. Acompanhe:

Ilustração do jogo Tetris. Imagem: Freepik.

Uma única intervenção psicológica, que inclui o jogo de computador Tetris, pode prevenir que memórias intrusivas e desagradáveis se desenvolvam em algumas pessoas após sofrerem um evento traumático.

Pesquisadores foram capazes de demonstrar de que forma os sobreviventes de acidentes de veículos motorizados tiveram uma queda desses sintomas se jogarem Tetris até seis horas depois de darem entrada no hospital, depois de terem, também, sido questionados sobre o que se lembravam do acidente.

Os resultados do estudo, que foi conduzido por pesquisadores do Instituto Karolinska em parceria com a Universidade de Oxford e outras instituições, foram publicados no jornal Psiquiatria Molecular.

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) pode afetar pessoas que passaram por experiências de guerra, tortura, estupro, acidentes de trânsito ou outros tipos de situação em que o indivíduo sentiu que a sua vida ou a de outrem estava em perigo.

Enquanto que a maioria das pessoas não desenvolve o TEPT depois de um trauma, aqueles que o desenvolvem se queixam de terem memórias intrusivas do evento (popularmente chamadas de flashbacks).

O tratamento cientificamente comprovado para o TEPS inclui terapia cognitivo-comportamental focada no trauma, mas não se tem notícia de intervenções preventivas para evitar o surgimento dos sintomas.

Emily Holmes, professora de psicologia do Departamento de Neurociência Clínica do Instituto Karolinska, passou muitos anos estudando os tipos de efeitos preventivos que intervenções comportamentais – como o processo incluindo o jogo Tetris – podem ter na redução de memórias intrusivas após um evento traumático.

Anteriormente, ela estudou indivíduos saudáveis em ambientes laboratoriais controlados. Agora, juntamente a sua colega de Oxford Doutora Lali Iyadurai levaram seu experimento para fora do laboratório pela primeira vez e foram para uma clínica a fim de estudar pacientes que sofreram acidentes traumáticos envolvendo veículos motorizados.

Imagem: Freepik.

Estudos anteriores demonstraram que uma em cada quatro pessoas que se se envolveu em tais acidentes irá desenvolver o TEPT.

“Nossa hipótese era que, depois do trauma, os pacientes poderiam ter uma diminuição das memórias intrusivas se jogassem Tetris como parte de uma curta intervenção comportamental enquanto estivessem aguardando atendimento na emergência do hospital,” disse a professora Holmes.

“Uma vez que o jogo demanda atenção visual, queríamos ver se ele poderia prevenir que os aspectos intrusivos das memórias traumáticas se estabelecessem, isto é, rompendo um processo denominado consolidação da memória.”

O estudo envolveu 71 vítimas de acidentes com veículos motorizados, das quais a metade recebeu a intervenção (relembraram o trauma brevemente e depois jogaram Tetris) enquanto esperavam na emergência do hospital, enquanto a outra metade realizou uma tarefa diferente, todas realizadas até seis horas depois do acidente.     

Os resultados mostraram que a hipótese dos pesquisadores estava correta: aqueles que jogaram Tetris tiveram menos memórias intrusivas do trauma no decorrer da semana imediatamente subsequente ao acidente em relação ao outro grupo.

Os cientistas também descobriram que as memórias intrusivas diminuíram mais rapidamente.

“A primeira semana depois do trauma pode ser decisiva para nossos pacientes, os quais precisam ir para casa, recuperar-se e prosseguirem com suas vidas, o que pode ser difícil se tiverem memórias intrusivas do trauma, com uma frequência de vários episódios por dia”, diz a Doutora Iyadurai.

O resultado primário da pesquisa foi o número de memórias intrusivas na primeira semana após o trauma.

É necessária uma pesquisa mais aprofundada com grupos maiores de pacientes, para verificar se os benefícios psicológicos da intervenção persistem por um período maior – como um mês, que é o período mais curto em que o TEPT pode ser diagnosticado.

Além disso, é preciso examinar se jogos semelhantes podem ser usados em pessoas que já desenvolveram o TEPT. Um número significativo de refugiados, por exemplo, apresentam sintomas do TEPT.

“Qualquer pessoa pode vivenciar um trauma”, diz a professora Holmes. “Faria uma grande diferença para muitas pessoas se pudéssemos criar intervenções psicológicas e comportamentais usando jogos de computador para prevenir o sofrimento pós-traumático e poupá-los dessas terríveis memórias intrusivas. Contamos que isso esteja próximo e será necessária mais pesquisa.”  

Os pesquisadores do Instituto Karolinska (Suécia) e da Universidade de Oxford (Reino Unido) colaboraram com colegas da Unidade de Ciências do Conselho Médico de Pesquisa Cerebral e Cognitiva de Cambridge (Reino Unido), Universidade de Ruhr (Alemanha) e Universidade de East Anglia (Reino Unido).

O estudo foi financiado por fundos oriundos de diversas instituições, incluindo o Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido, Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido e The Wellcome Trust.

O artigo completo “Prevenindo Memórias Intrusivas depois de um Trauma via Intervenção Breve Envolvendo o Jogo de Computador Tetris no Departamento de Emergência” pode ser lido no jornal Psiquiatria Molecular.

Fonte: Oxford. 

Tradução e adaptação: Professora Manuka.

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