César Lattes: entre o méson pi e o lado humano

Não é essencial possuir instrumentos de última geração para fazer ciência de qualidade. Essa ideia era expressa por Lattes e representava o seu entendimento sobre a realização da pesquisa científica.

César Lattes dando aula. Fonte: imagens públicas do Google.

Segundo ele, os fenômenos físicos também se revelam ao instrumental mais antigo, embora isso demande mais emprenho.

Com facilidade para se comunicar e com tom alegre na fala, procurava, de forma provocativa, conduzir os diálogos dos quais gostava de participar. Assim era o homem Cesare Mansueto Giulio Lattes (César Lattes), paranaense nascido em Curitiba, em junho de 1924.

Aos 18 anos, ingressou no Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

Na condição de estudante, Lattes pôde desenvolver estudos teóricos sobre Física com Gleb Wataghin e Mário Schenberg, mas seu convívio com o físico italiano Giusseppe Occhialini (1907-1990) levou-o a priorizar a física experimental.

Nessa época, Lattes construiu e colocou em funcionamento um tipo de detector de partículas denominado câmara de Wilson.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Occhialini foi afastado do seu cargo acadêmico e, com o fim do conflito, decidiu ir para a Universidade de Bristol. Nessa época, Lattes enviou uma carta para Occhialini contendo a foto de uma cascata eletromagnética, obtida durante seus estudos com a câmara de Wilson.

Esse fato chegou ao conhecimento do físico inglês Cecil Frank Powell (1903-1969), que, junto com Occhialini, convidou Lattes para participar do grupo de pesquisas que o levariam, em 1947, a descobrir o méson pi.

César Lattes e Giuseppe Occhialini. Fonte: imagens públicas do Google.

Lattes não chegou à descoberta do méson pi (ou píon) de uma hora para outra. Antes dele, em meados da década de 1930, o físico japonês Hideki Yukama (1907-1981) havia previsto teoricamente a existência do píon, uma partícula ligada à força nuclear e à estabilidade do núcleo atômico.

Em 1948, junto com o norte-americano Eugene Gardner, detectou artificialmente mésons pi utilizando o acelerador da Universidade de Berkeley, na Califórnia.

Como resultado, Yukawa e Powell foram agraciados com o prêmio Nobel de Física dos anos de 1949 e 1950.

O méson pi é uma partícula subatômica mantida por ação da força nuclear. Na época do desenvolvimento da Física Nuclear, a sua descoberta ajudou a compreender o motivo de o núcleo de um átomo, sendo composto por prótons (carga positiva) e nêutrons (carga neutra), se manter unido e estável.

Por essa partícula ter massa intermediária entre a do próton e a do elétron, recebeu o nome de méson, “meio” em grego.

A repercussão dessa descoberta permitiu que Lattes, aos 23 anos, fosse reconhecido internacionalmente pela comunidade científica.

As portas de vários centros de pesquisas e universidades estrangeiros se abriram para ele, que optou por retornar ao Brasil e fazer uso do prestígio conquistado para contribuir com uma sociedade carente de produção de conhecimento científico.

Dessa forma, tornou-se um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da produção de conhecimento científico no Brasil e na América Latina.

Desde meados da década de 1940, publicou vários trabalhos científicos. Foi também responsável pela formação do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo.

Em março de 2005, por insuficiência cardíaca, Lattes faleceu. Em sua trajetória de vida, mostrou-se sempre avesso às grandes homenagens e a cargos públicos, por entender que a sua independência como cidadão e crítico deveria ser preservada.

Porém, entre os amigos foi sempre um contador de casos e histórias, que detalhava com maestria.

Fonte:

FILHO, Benigno Barreto; SILVA, Claudio Xavier. Física aula por aula: mecânica dos fluidos, termologia, óptica (coleção Física por aula, vol. 2). São Paulo: FTD, 2010, 1ª ed. 

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