10 coisas que aprendi em 10 anos como professora na rede pública

 

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Em 2013, logo após iniciar na faculdade de Pedagogia, já fui para sala de aula. De lá para cá, passei pela Educação Infantil, Projetos Sociais, Reforço e Educação Especial. Nesses 10 anos, aprendi valiosas lições com meus colegas de profissão e com os alunos.

Aproveitando que no mês de outubro se comemora o dia do professor, vou trazer alguns desses aprendizados aqui:

1. O professor é um eterno aprendiz

Não dá para se formar, colocar o diploma na parede e pensar: “Ufa, acabou!”. Não! Sempre há algo novo para aprender. Todos os dias, surgem demandas para o professor: dificuldades de aprendizagem, inclusão de alunos com necessidades especiais, novas questões burocráticas dos órgãos supervisores, uma nova coleção de livros com uma nova abordagem, um novo projeto para colocar em prática com os alunos, enfim, a lista é enorme.

Veja também: Coisas que eu gostaria de ter aprendido na faculdade antes de me tornar professora

A questão é: o mundo em que vivemos está em constante mudança e nós precisamos sempre buscar novos meios de entregar o nosso melhor para os alunos, além de nos tornarmos profissionais cada vez mais capacitados.

 

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2. Ter iniciativa

O aluno está faltando muito? Alguns alunos da turma estão com dificuldade de aprendizagem? Os alunos estão achando o conteúdo complicado? Deseja fazer uma aula diferente para a sala, seja ao redor do quarteirão ou pelo centro histórico da cidade?

Não precisamos somente esperar que a “solução” venha da gestão. Temos que comunicar algumas situações para dar ciência do ocorrido, mas podemos ter iniciativa de resolver.

Podemos reservar uma data na televisão ou datashow da escola para apresentarmos um filme coerente com o conteúdo. Podemos pedir permissão à gestão e aos pais para uma aula sobre cidades, endereços e patrimônio histórico sendo feita pelo centro da cidade. São apenas alguns exemplos.

Não podemos ficar parados. Sabemos, é claro, que nem tudo depende de nós, mas não custa nada tentar resolver com quem pode ajudar, seja gestão, pais ou governantes.

 

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3. Ter interesse pelos interesses dos alunos

Não posso cobrar um aluno para ler um clássico da literatura se eu disser que os mangás que eles leem de Naruto, One Piece ou outros são “perda de tempo”. A leitura não começa só nos clássicos, ela começa nos livros infantis ilustrados e nos tão famosos mangás japoneses.

Até mesmo as cartinhas que as crianças gostam de colecionar também são um estímulo à leitura, com seus textos curtos. O que eu quero demonstrar é que podemos orientar um aluno sem tentar diminuir seus interesses.

É plenamente possível que alguém goste de quadrinhos e também goste dos clássicos. Inclusive, diversas obras da literatura foram adaptadas para as histórias em quadrinhos.

Um exemplo é Helena, de Machado de Assis, adaptada pelo Studio Seasons. Vou deixar o link abaixo dessa obra com um traço com estilo mangá, que pode ser utilizada nas aulas de Literatura.

Resenha Helena em Mangá – Studio Seasons

 

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4. Ser um exemplo de boas atitudes

Não adianta dizer para os alunos lerem e não aparecer carregando sequer um livro durante todo o ano. Por vezes, nossos alunos vieram de contextos tão conturbados que não têm uma referência de comportamento adulto saudável.

Não quero aqui trazer mais uma carga para o professor, apenas quero mostrar que somos mais observados do que imaginamos.

Não é gratificante conversar sobre livros com os alunos? Lembro até hoje de um livro bem engraçado que um aluno me emprestou (ele tinha uns 12 anos na época). Ele deve ter, inclusive, ficado bastante feliz de ter emprestado um livro para a professora.

O que eu proponho é que mostremos o nosso melhor para eles dentro das nossas limitações. Dividir com eles bons exemplos e boas atitudes.

 

5. Ouvir mais e julgar menos

Em determinado trabalho da área da educação que exerci, tive mais contato com os lares dos alunos e com suas famílias, ouvindo as dores e situações de vulnerabilidade junto a uma equipe multidisciplinar.

O que eu quero dizer com isso? Que, por vezes, um comportamento mais agitado de um aluno está sendo o reflexo de: falta de rotina, falta de sono, abandono familiar, situação de violência em casa ou na escola (como Bullying) ou mesmo de renda insuficiente para sustentar a família.

Veja também: Por que os alunos não aprendem?

É interessante chamar os pais ou responsáveis para conversar quando o comportamento do aluno mudar, ouvir também o aluno, outros professores e também seus amigos de sala. Eu acredito que muitos alunos não se comportam mal somente por opção, muitos estão dando vazão a algo que esteja acontecendo em suas vidas, como um pedido de ajuda.

 

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6. Humildade sempre

Acredito que quase todo profissional já se deparou com algum colega que gosta de puxar tapete, falar mal de gestão ou de colegas ou mesmo bajular o “chefe”.

Pode parecer que essa pessoa se dá bem na vida, mas eu sempre pensei que não quero ser assim. Se eu vejo um curso, livro ou atividade interessante, eu compartilho com vários colegas.

Não é preciso guardar segredo ou mesmo tentar melhorar sozinho. Eu acredito que o sucesso profissional pode ser compartilhado. Gosto de aprender com os outros e de entregar algo positivo nas relações de trabalho.

 

7. Educação e cordialidade sempre

Por vezes, um colega de trabalho ou aluno te tratou de uma forma que não foi muito legal. Um grande erro, na minha opinião, é responder na hora, com “o sangue quente”.

Como assim? Eu devo deixar as pessoas me desrespeitarem? Não! Estou dizendo que respostas dadas no calor do momento geralmente trazem problemas, Porque se você for grosseiro ou falar um pouco mais alto, irá perder a razão.

Com um aluno, é possível chamar para uma conversa enquanto a turma está fazendo uma atividade, ou mesmo chamar os pais, caso o comportamento seja recorrente.

Com os colegas ou superiores, por vezes é um pouco mais complicado, pois muitos adultos funcionam desse modo e acham que estão com a razão e não precisam mudar.

Essa situação piora muito quando a pessoa está em uma instituição por indicação “de alguém maior”, já que ela se sente “segura” de que pode fazer o que quiser e não será punida.

É uma situação muito triste que ainda ocorre em muitas escolas e instituições públicas no Brasil. Mas a sua educação não depende da educação do outro. Entregue sempre seu melhor e tente um distanciamento emocional, falando apenas o necessário.

 

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8. Não copie comportamentos ruins

É comum sermos influenciados por pessoas do nosso convívio. Porém, precisamos observar se essas influências são positivas ou negativas.

- Ah, mas eu fico desmotivado em uma equipe em que ninguém dá bom dia e vemos só fofoca e crescimento por indicação sem merecimento.

Não tiro sua razão. Mas não se torne uma pessoa acomodada só porque as pessoas ao seu redor têm comportamentos duvidosos.

Dê bom dia sem esperar (e nem cobrar) uma resposta. Seja honesto, mesmo que as pessoas ao seu redor estejam sempre tentando puxar o tapete de alguém. Trate todos de forma educada, mesmo que os colegas só tratem bem aqueles de maior hierarquia.

Não deixe de estudar nem de se capacitar cada vez mais. Você pode, inclusive, buscar outros locais de trabalho, com um currículo amplo que você construiu enquanto os outros só faziam mais do mesmo.

 

9. Comunicação com a família do aluno é importante

Cada aluno vem de um contexto diferente. Geralmente, os pais querem uma orientação, “uma luz” de como lidar com seus filhos.

Informações óbvias para nós podem ser novidade para eles, principalmente quando você lida com pessoas com pouco estudo e pouca rede de apoio.

Ouvir as queixas dos pais sem levar para o pessoal é o primeiro passo. Por vezes, eles não sabem como funciona uma escoa, quais as atribuições do professor e qual o papel da família.

Sabemos que muitas famílias não estão participando da educação dos filhos de forma tão ativa e que o tempo das crianças e adolescentes nas telas, dentro de seus quartos sozinhos, só tem aumentado.

É importante conscientizar e conversar de forma honesta com eles. Eles também querem ser ouvidos, participar e entender melhor como podem ajudar seus filhos.

Sobre o tempo de telas, isolamento no quarto e segurança nas redes, indico abaixo um ótimo livro que pode ajudar professores e pais:

Resenha: Geração do Quarto – Hugo Monteiro Ferreira

 

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10. Os alunos são mais do que uma nota

Sabemos que nosso sistema exige notas. Temos que fazer de acordo com o que a legislação prega. É verdade que, muitas vezes, professores e alunos se sentem presos a uma avaliação escrita.

Os pais ficam preocupados com a nota dos filhos. Por vezes, o aluno foi participativo nas aulas, entregou tarefas, mas teve branco na prova por causa do nervosismo. Então, todo o trabalho realizado no bimestre ficou resumido a uma nota vermelha?

Eu digo que não. Sabemos que a média leva em conta todos esses fatores que citei anteriormente. Mas quero propor uma reflexão: vamos estimular os talentos dos nossos alunos.

Se eles gostam de desenhar, elogie. Se eles gostam de construir bonecos ou maquetes com material reciclável, que bom! Se eles gostam de aprender outra língua que não seja o inglês, isso é bom também.

Os talentos e interesses dos alunos não precisam estar atrelados às matérias de sala de aula. Elogie o esforço dos alunos e tente ajudá-los no que for possível.

E você?

Deseja compartilhar seus aprendizados como professor ou profissional da educação? Deixa nos comentários a sua experiência.

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