Globalização da água: água virtual e pegada hídrica

Você já ouviu falar de água virtual? Não se trata de nenhum líquido que corre entre os sites da internet, mas aquela água que consumimos sem saber quando compramos roupas, alimentos e qualquer outro produto industrializado. Acompanhe:

Imagens: Freepik.

A água industrial, somada à água consumida diretamente por um indivíduo ou uma população, recebe o nome de pegada hídrica. A pegada hídrica leva em conta não apenas a água agregada aos produtos, mas também o volume poluído na cadeia produtiva.

Nem todos os países deixam uma pegada hídrica equivalente à disponibilidade de água em seu território.

A razão desse descompasso nas contas é a importação de bens: as nações pobres em água compram do estrangeiro alimentos e produtos industriais e, com eles, importam – na forma de água virtual – o recurso coletado de bacias hidrográficas de outras regiões do globo.

A Jordânia, por exemplo, retira a cada ano apenas 1 bilhão de metros cúbicos de água de seus rios e aquíferos. Mas consome sete vezes mais água (na forma virtual) contida nos produtos que importa.

É por esse mecanismo que os chineses afetam as bacias hidrográficas brasileiras quando compram nosso frango e, no sentido inverso, os brasileiros consomem parte da água das bacias chinesas em cada eletrônico made in China.

A globalização, que tornou interdependentes os mercados espalhados pelo planeta, reforçou também o comércio internacional de água virtual.

Entre 1997 e 2001, o comércio internacional transferiu de um país a outro algo em torno de 1 trilhão de metros cúbicos de água virtual por ano, apenas em produtos agropecuários.


Se incluirmos aí os produtos industriais, o fluxo anual de água virtual superou 1,6 trilhão de metros cúbicos.

Desse total, 61% do volume viaja invisivelmente em grãos, e outros produtos vegetais, animais e derivados representam 17%. Os produtos industriais utilizam 22% - ou seja, 88% da água virtual transferida entre nações diz respeito diretamente à alimentação da humanidade.

O Brasil está entre os maiores exportadores de água virtual do mundo, ao lado dos Estados Unidos, do Canadá e da França. Mas, como todas as demais nações, também importamos água virtual.

No saldo final – a diferença entre exportação e importação –, algumas ganham mais do que transferem. Os EUA, por exemplo, perderam entre 1997 e 2001 mais de 53 milhões de metros cúbicos por ano.

Já a Alemanha ganhou 35 bilhões. No mesmo período, o Brasil exportou a cada ano 67,8 bilhões de metros cúbicos – 97% na forma de produtos agropecuários – e teve um saldo negativo de quase 45 bilhões de metros cúbicos.

O comércio de água virtual tem um lado bom e outro nem tanto. O aspecto positivo é que essa transferência de água entre as nações alivia a escassez hídrica nos países mais carentes de mananciais.

A exportação, nesse caso, funciona como uma espécie de instrumento de democratização do bem natural. Por outro lado, a produção de mais alimentos para vender a outras nações exerce pressão sobre os mananciais dos países exportadores.

Água: líquido de comer
Bastam 50 litros de água por dia para que uma pessoa mantenha a higiene, mate a sede e prepare as refeições. Mas, quando se inclui no cálculo a água necessária para produzir os alimentos básicos que chegam a nossa mesa, cada cidadão precisa de muito mais – algo em torno de 3.600 litros por dia.

Isso significa que, no decorrer de um ano, uma pessoa precisa de mais de 1 milhão de litros, cerca de dois quintos do volume de uma piscina olímpica.

Mas a água que se usa em casa, aquela que sai de torneiras e chuveiros, representa uma pequena parcela de tudo o que cada cidadão consome – no total, apenas 10% do consumo mundial.

Para o consumidor doméstico, os restantes 90% vêm na forma de água invisível, dissolvida nos mais diferentes produtos e atividades. A agricultura e a pecuária são, de longe, as atividades responsáveis pela maior parte do consumo de água.

Cerca de 70% do que é extraído dos rios e aquíferos se destina à produção agropecuária. Para garantir safras de arroz, trigo e leite, o homem reduziu a vazão de grandes rios.


Considere o seguinte café da manhã reforçado: uma xícara de café, um copo de leite, uma fatia de pão, outra de queijo, um ovo quente e um copo de suco de laranja.

Quem ingerir essa refeição consumirá indiretamente mais de 600 litros de água – o volume utilizado para irrigar as plantações de café, de laranja e de trigo e para matar a sede do gado que deu o leite e alimentar com ração a ave que botou o ovo.

Se nosso convidado para o café da manhã estiver usando uma camiseta de algodão e um tênis de couro, a dívida para com as fontes hídricas mundiais subirá mais 10.000 litros.

Isso sem contar a água empregada na fabricação da mesa e das cadeiras da sala, a eletricidade consumida pela geladeira, na qual os alimentos foram conservados, o combustível utilizado no transporte dos alimentos do campo para as prateleiras do supermercado etc.

Enfim, tudo o que a sociedade moderna consome, de alimentos e ligas metálicas a eletricidade e petróleo, só existe porque a água foi utilizada como matéria-prima ou como insumo, na produção do bem ou do serviço.

Fonte:


Ciências Humanas – Geografia 1 / Abril Coleções – São Paulo: abril de 2010. 

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